A próstata e os medos em torno dela

Uma mentira dita muitas vezes passa a ser verdade? Sim ou não, confesso que não sei. Mas são muitas as vezes que tenho de explicar aos meus Doentes que as ideias e os conceitos que trazem como certos não fazem sentido.

O peso do Passado e de alguns preconceitos na opinião de cada doente é enorme. Sinto isso em cada dia da minha prática clínica. Muitos com fundamento, outros sem qualquer fundamento, associam à cirurgia prostática, o drama da disfunção erétil (ou vulgarmente designada por impotência) e da incontinência urinária. Felizmente, e como vulgarmente tanto se ouve, a tradição já não é o que era.

As doenças da próstata podem-se dividir em dois grandes grupos: malignas (em que se inclui o cancro da próstata) e benignas (hiperplasia benigna da próstata, prostatites, entre outras).

A próstata, ao fazer parte do sistema reprodutor masculino, tem aproximadamente o mesmo tamanho e forma de uma noz e está localizada abaixo da bexiga e à frente do reto, envolvendo a uretra. A uretra é uma estrutura tubular que transporta a urina da bexiga através do pénis.

De uma forma algo generalista, a maior parte das cirurgias da próstata são realizadas em consequência de duas doenças: a hipertrofia benigna da próstata e o cancro da próstata. As taxas de incontinência e disfunção eréctil são completamente diferentes das do passado, numa era onde o aprimorar da técnica e o uso da tecnologia tem diminuído vastamente estes números.

Ainda que menores atualmente, é sempre importante diferenciar a cirurgia que é efetuada por doença benigna da cirurgia que é efetuada por cancro da próstata.

No dia-a-dia, sempre que coloco a indicação cirúrgica a um doente, ato nobre em que o cirurgião explica ao doente que clinicamente tem indicação para ser operado, apercebo-me que, para muitos doentes, as palavras “cirurgia à próstata” são iguais a incontinência e impotência, o que é de todo um erro. Já nem sequer falo nas outras opções não cirúrgicas que existem para estas patologias, refiro-me á cirurgia. Quer na cirurgia por cancro, quer na cirurgia por doença benigna, as taxas são muito diferentes das “expressões faciais” que, vulgarmente, vejo estampado no rosto de muitos doentes. Indiscutivelmente e, felizmente que a prevalência, ou seja, o número de doentes afetados por doença benigna da próstata, é muito maior do que doença maligna, o que para muitos pacientes também é um motivo de confusão! Doença de próstata não é, de forma alguma, igual a cancro de próstata, aliás, na maior parte das vezes, referimo-nos a hipertrofia benigna da próstata.

No que diz respeito à hiperplasia benigna prostática (HBP), esta é uma patologia urológica muito comum causada pelo aumento não-cancerígeno da glândula prostática em homens a partir dos 50 anos. Como a próstata aumenta, ao envolver a uretra, faz com que a maioria dos homens tenha dificuldade ao urinar levando aos sintomas de HBP. Esta patologia, ainda que benigna, tem muitas vezes um enorme impacto na qualidade de vida do homem. Tal facto constata-se pelo número de vezes que se levanta durante a noite, pela necessidade imperiosa de urinar, pela fraqueza do jacto urinário e, muitas vezes, pela disfunção erétil associada. Atualmente, para além da terapêutica medicamentosa, existe um vasto leque de terapêuticas tecnológicas minimamente invasivas ao serviço da Urologia, que possibilitam o tratamento desta patologia tão frequente com um tempo de internamento muito reduzido, bem como uma ausência de cicatrizes cirúrgicas. Por tudo isto, uma discussão com o seu médico Urologista reveste-se de primordial importância, tendo sempre presente que o seu Médico será o seu maior aliado no seu tratamento.

“Pensam que a tecnologia nos fará livres. Não, são as pessoas que nos libertarão.”

          Michael H. Posner

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