Pedra nos Rins

Esta é uma área pela qual me interesso particularmente e tem sofrido uma evolução considerável. Sobretudo, graças a dois aspetos: o aumento brutal de doentes que sofrem deste problema e também o desenvolvimento de tecnologia, que permite tratar estes doentes de maneira cada vez mais eficaz e de uma forma menos invasiva.

A litíase, ou a vulgarmente designada pedra nos rins, é uma das patologias urológicas mais dolorosas e prevalentes. Mais de um milhão de casos de pacientes com pedra nos rins são diagnosticados a cada ano nos EUA. A incidência de litíase é de cerca de 12% aos 70 anos para os homens e de 5-6% nas mulheres nos EUA. A maioria das pedras contêm cálcio, sendo a maior parte constituída por um material chamado de oxalato de cálcio. Outros tipos de pedras incluem substâncias, tais como fosfato de cálcio, ácido úrico, cistina e estruvite.

As pedras formam-se quando há um desequilíbrio entre certos componentes químicos urinários, tais como cálcio, oxalato e fosfato. Alguns destes componentes químicos promovem a cristalização, enquanto outros a inibem. Um tipo menos comum de pedra é a estruvite ou pedra de infeção, uma vez que é causada por uma infeção no trato urinário. Menos comuns ainda são as pedras puras de ácido úrico. Muito mais raro é o caso do tipo hereditário de pedras de cistina e, ainda mais raros, são aqueles ligados a outras doenças hereditárias.

Não é pouco comum um doente queixar-se de dor lombar, como “dor nos rins”, mas, na maioria das vezes, não é de facto o que acontece. Geralmente, estas dores são de origem músculo-esquelética e não têm propriamente a ver com a dor de origem renal. A dor de origem renal, causada por infeção ou por outro motivo, como por exemplo as pedras, é uma dor sentida na região lombar que não tem, geralmente, posição de alívio (posição antiálgica) e que, muitas vezes, irradia para a região anterior, podendo inclusivamente o doente referir irradiação para a zona anterior, abdominal, podendo ainda esta dor ser acompanhada de febre, náuseas e/ou vómitos.

Mas então, sempre que existem pedras no rim, existe dor, ou seja, cólica? Não necessariamente. O doente pode desenvolver pedras, e até atingirem um tamanho importante, sem que sinta quaisquer sintomas. Contudo, se essas pedras bloquearem parcialmente a passagem de urina, desencadearão dor. Essa dor, geralmente em forma de cólica, é também relacionada com a forma, tamanho e a localização da pedra.

Por múltiplas razões, o número de doentes com pedras nos rins tem vindo a aumentar ao longo dos últimos 20 anos. Apesar do número de doentes com pedras ser maioritariamente do sexo masculino, o número de mulheres tem vindo a aumentar ao longo dos últimos 10 anos.

O clima, a reduzida ingestão de água e as dietas ricas em sal podem também desempenhar um papel importante na formação de pedras no sistema urinário e, posteriormente, o aparecimento de cólicas renais. Existem também certos alimentos que podem promover a formação de pedras em pessoas mais suscetíveis. Fatores como a história familiar ou pessoal, por exemplo, a existência de determinadas doenças ou infeções urinárias de repetição, podem constituir um fator de risco para a formação de pedras.

Atualmente, temos ao dispor da medicina inúmeros meios complementares de diagnóstico que ajudam não só o diagnóstico e localização com grande precisão dos cálculos urinários como também a eventual programação terapêutica, como por exemplo: o Rx, a ecografia e a TC. Contudo, na abordagem terapêutica, é fundamental diferenciar dois grandes grupos de doentes: o doente em situação urgente/aguda com quadro de cólica renal e aquele que não se encontra em situação aguda, a quem poderá ser programado o tratamento, podendo, em ambos os casos, o tratamento passar por uma cirurgia ou por tratamento médico, ou, inclusivamente por ambos. Quando falamos em cirurgia devido a pedras nos rins, temos a tecnologia ao lado da Urologia, ou seja, a vulgar cirurgia aberta para remover pedras já não se pratica nos dias de hoje, salvo raríssimas exceções. Atualmente, através de procedimentos minimamente invasivos, sem nenhuma incisão, consegue-se efetuar o tratamento cirúrgico da grande maioria dos casos com tempos de recuperação muito rápidos, sem que o doente altere praticamente a sua atividade quotidiana.

A discussão com o seu Urologista é fundamental para planificação do seu diagnóstico, tratamento e adoção de um estilo de vida que não potencie quer o crescimento das pedras já existentes, quer a formação de novos cálculos. A adoção de uma dieta adequada, ingestão hídrica abundante, evitação da ingestão de alimentos ricos em oxalato, como vegetais de folhas verdes, nozes, chá ou chocolate devem ser aspetos a ter em conta. Existem também certas situações que estão intrinsecamente associadas a um maior risco de formação de cálculos, nomeadamente, a diarreia crónica, a doença de Crohn, a cirurgia de bypass gástrico e a obesidade.

Durante um episódio de cólica renal, os sintomas, normalmente, incluem dor violenta extrema de início súbito, em que o doente nega qualquer posição antiálgica. Geralmente, a dor começa de repente, causando irritação e obstrução. A dor, tipicamente, tem a localização lombar ipsilateral, como por vezes irradiação anterior para a virilha ou abdómen. O aparecimento de sangue na urina, náuseas e / ou vómitos é também frequente. Ocasionalmente, as pedras não produzem quaisquer sintomas, no entanto, apesar de "silenciosas", podem causar danos irreversíveis para a função renal.

Por tudo isto, é fundamental que, juntamente com o seu médico, aposte na prevenção da formação de cálculos para que o tratamento seja uma consequência a evitar.

“O inteligente é o Homem que se previne de tudo.”

Heinrich Heine


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